domingo, 8 de abril de 2018

Three Bilboards outside Ebbing, Missouri (Três Cartazes à Beira da Estrada) - A (des)Conexão do Anti-Herói


Uma característica comum da maioria dos filmes mainstream de sucesso, tanto actuais, como mais antigos, é a força moral do ou dos protagonistas em relação ao espectador. Para envolver a audiência, o(s) personagem(s) tem de partilhar um código de conduta que se relacione connosco ou que, ao longo da história, esse código seja adquirido através de desenvolvimento de carácter. Ou o cineasta decide apresentar o herói "perfeito", com os seus valores morais já estabelecidos desde o início ou, como vem sendo habitual nos filmes com mais substância, o protagonista surge com uma ou múltiplas imperfeições e, ao longo da acção vai apreendendo características redimíveis. Se isso não acontecer, geralmente significa que estamos a falar do vilão da nossa história (veja-se o caso, ainda que debatível, do Daniel Plainview de Daniel-Day Lewis em There Will Be Blood).

Three Billboards Outside of Ebbing, Missouri reverte esta convenção e dá-nos uma heroína, ou antes uma anti-heroína que, apesar das suas acções muitas vezes questionáveis, tem a habilidade de se relacionar com o espectador, pelo menos até certo ponto.


Three Billboards (...) é a terceira longa-metragem de Martin McDonagh, responsável por duas comédias negras notáveis, Em Bruges (2008) e o profundamente meta-linguístico Sete Psicopatas (2012). Desta vez o realizador e argumentista apresenta-nos uma mulher no papel de protagonista, a consistente Frances McDormand, que dá vida a Mildred Hayes, numa interpretação que lhe valeu, e muito bem, o seu segundo Óscar.
Mildred vive numa pequena localidade do interior onde todos se conhecem. Ela é a mãe de Angela, uma adolescente que foi brutalmente violada e assassinada 7 meses atrás. Insatisfeita com o resultado infrutífero das investigações, Mildred decide alugar 3 cartazes publicitários à beira da estrada remota à entrada da vila, com acusações de negligência ao chefe da polícia local, Willoughby (Woody Harrelson).

O filme, embora à primeira vista apresente uma premissa com o qual o espectador se pode relacionar plenamente - a motivação que move uma mãe para que o assassino da sua filha seja encontrado - leva-nos, no entanto, a questionar as acções da protagonista. É neste dilema moral que a obra se destaca e obriga a quem a vê a se questionar se as atitudes desta mãe são ou não aceitáveis.
Todas as acções de Mildred são, no seu essencial, profundamente egoístas. As mensagens dos cartazes afectam toda a pequena vila, de uma forma ou de outra. Os elementos da Policia ficam mal vistos apesar de, como se vem a descobrir, a falta de pistas e suspeitos levar a investigação a um beco sem saída; o filho de Mildred é gozado e insultado na escola; Mildred leva o caso à televisão, pondo o resto do país com os olhos na localidade. Nem a revelação de que Willoughby tem um cancro terminal demove a mulher da sua determinação.


Frances McDormand afirmou que construiu a sua Mildred com base sobretudo numa pessoa e nos seus personagens do grande ecrã: John Wayne. E isso é notável na sua personalidade. Mildred é uma mulher dura, inflexível, determinada, marcada pela vida. No entanto isso não evita que algumas das suas acções sejam profundamente questionáveis pelo espectador, tais como dar pontapés na virilha de dois estudantes ou incendiar a esquadra de polícia por pressupor, sem provas, que os cartazes teriam sido incendiados por algum dos guardas.

O filme preenche as suas personagens com culpa, remorso e preconceito. Dixon (um soberbo Sam Rockwell), com o seu racismo que tem de "engolir" um chefe de policia negro, o ex-marido de Mildred com a sua violência doméstica e a sua namorada de 19 anos e mesmo a própria protagonista com o seu desdém perante o anão James (Peter Dinklage) e o embaraço de ser vista junta com ele no restaurante. Aliás, de todos os elementos principais da história, só Willoughby parece ter qualidades redentoras aos olhos do espectador.


Martin McDonagh confronta-nos com personagens essencialmente humanas, cheias de defeitos, mas que não obrigam necessariamente ao espectador a ter de se conectar com as mesmas plenamente. Aliás, o seu objectivo não era esse, mas sim o de levantar questões sobre a aprovação das acções e atitudes exibidas no ecrã pelos protagonistas. E consegue-o de uma forma exemplar.
No fim, não há qualquer tipo de redenção para Mildred. Ela continua a ser preconceituosa, egoísta, impulsiva, enquanto ela e Dixon avançam em direcção a um objectivo incerto e que certamente só lhes trará mais remorso.

1 comentário:

  1. Para mim vale muito a pena assistir é bom roteiro. Este filme é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Eu tambem assisti o filme O conto e simplesmente adorei o tema é muito interessante. O conto é um dos melhores filmes drama quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações, o elenco faz um excelente trabalho. Sem dúvida a veria novamente.

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