quarta-feira, 30 de outubro de 2013

3 nunca é demais - Filmes fantásticos

É sempre difícil definir fantasia, eu diria que é um género que utiliza meios que inicialmente já são impossíveis por si só e cujo objectivo é ajudar a metaforizar a mensagem da obra. Em baixo apresento três filmes com características de cinema fantástico que prezam pela sua originalidade e que são acessíveis a qualquer tipo de espectador.

Pan´s Labyrinth (2006)
Numa hábil narrativa vemos uma parte bem real, as perseguições a qualquer rebelde que se opunha ao regime fascista numa Espanha governada por Franco. Nesta poderosa realidade a nossa pequena protagonista, Ofélia, entra num mundo de fantasia onde tem de efectuar várias tarefas ordenadas pelo Fauno (uma actuação brilhante) de modo a provar que é mesmo a princesa do Reino subterrâneo. Um filme que tem uma atmosfera tão rica como o próprio conteúdo e que nos faz pensar no verdadeiro significado da obra.

Brazil (1985)
Levemente inspirado no romance de George Orwell 1984, Terry Gilliam constrói uma satírica visão do futuro onde a sociedade, tão preocupada com coisas superficiais, não se preocupa com o regime que a controla. Nesta sociedade Sam vive uma vida aborrecida até que começa a sonhar sempre com a mesma rapariga e decide fazer tudo para a encontrar, nem que isso signifique opôr-se ao próprio regime. Um filme que nos mostra um futuro completamente ridículo (usar botas como chapéus) ou não fosse Terry Gilliam um membro dos Monty Python, mas também que, pouco a pouco, nos faz sentir que devemos abrir mais os olhos para a realidade que nos rodeia.

Scott Pilgrim vs. the World (2010)
O objectivo de qualquer cineasta é fazer um filme que defina uma geração e Edgar Wright com este filme acertou em cheio deixando todos os espectadores, principalmente aqueles com as idades entre os 18 e os 30 extasiados com a enorme quantidade de referências nostálgicas. Neste filme leve e divertido Scott Pilgrim, um jovem músico, para conquistar o coração da sua amada tem de derrotar os seus sete ex-namorados usando vários super-poderes e sendo recompensado com moedas. Uma metáfora engraçada para mostrar que todos os relacionamentos trazem algum tipo de bagagem.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Tão Mau Que É Bom Demais - The Giant Claw (1957)


Nos anos 50, fruto da ameça nuclear, surgiu no cinema americano uma onda de filmes de série B cujo principal tema eram monstros com características aberrantes, totalmente inimagináveis, fosse uma árvore andante (From Hell It Came - 1957), uma criatura com tentáculos de aspecto duvidoso (Monster From the Ocean Floor - 1954), um Sistema Nervoso Central voador (Fiend Without a Face - 1958), uma bolha gelatinosa viva (The Blob - 1958), entre outras criaturas com formas extraordinárias. Havia depois os filmes de Ed Wood Jr., mas isso já é outra conversa! No meio desta lufada de filmes duvidosos, destacavam-se alguns que eram tão maus, tão maus, que chegavam a ser bons! E aí surge então The Giant Claw!

Mitch MacAfee (Jeff Morrow) é um piloto da força aérea que avista uma dia, durante um voo, um vulto de um objecto desconhecido, que ele descreve (e bem recorrentemente) ser "tão grande como um navio de guerra"! Não sabemos nada sobre o objecto, mas posteriormente vão ocorrendo mais avistamentos e alguns aviões começam a desaparecer.
A permissa de The Giant Claw é típica de filmes de série B desta época, no entanto é contada de uma maneira invulgarmente intigrante, deixando o espectador a expecular sobre o aspecto do monstro... isto até nos ser realmente mostrada a criatura! Quando uma ave gigante, de aspecto apatetado, com um pescoço de perú, com uma crina, que parece saída de um episódio barato dos Marretas nos surge à frente, sabemos que toda a credibilidade foi para as urtigas!



Mas é precisamente este monstro que torna o filme tão hilariantemente mau! Com as múltiplas aparições da ave, é impossível não rir e pensar o que raio estava a passar na cabeça do produtor quando achou que aquilo ia resultar. Pois bem, a criatura inicialmente era suposto ter sido concebida por Ray Harryhausen, mestre na criação de modelos para stop-motion. Claro que o orçamento limitado não permitiu tal coisa e o design da ave acabou à responsabilidade de um estúdio mexicano! Claramente compensou!
Os actores até se portam bem, para este tipo de filme, mas as suas actuações são fruto da total ignirância do tipo de filme onde se estavam a meter, uma vez que o monstro só foi adicionado em pós-produção, de tal forma que os actores nunca o chegaram a ver até o filme estar completo. Conta-se que Jeff Morrow foi à estreia do filme na sua cidade-natal e, depois de ver o monstro e ver as reacções de troça do público, saiu da sala sorrateiramente para que ninguém se apercebesse que lá estava, chegou a casa e embebedou-se!

Vale ainda dizer que a ave é extra-terrestre (as mutações são claramente sobre-valorizadas), o que significa que o pássaro veio a voar (!!!) pelo espaço fora até chegar à terra, uma vez que não tem nave, e possui uma escudo anti-matéria (alta tecnologia num perú gigante)!

sábado, 5 de outubro de 2013

Pérolas Escondidas - Corman's World: Exploits of a Hollywood Rebel (2011)


Roger Corman. Para muitos, principalmente nós europeus, este nome não diz nada... ou muito pouco. No entanto, este senhor que já anda na casa dos 80 anos e ainda continua no activo, foi talvez o maior nome do cinema exploitation que o Hollywood já conheceu... Foi também um dos principais responsáveis pelo aparecimento da Nova Hollywood, nos finais dos anos 60 e que se prolongaria pelos anos 70 fora.

Corman's World: Exploits of a Hollywood Rebel, infelizmente não estreado em Portugal (que novidade!), recupera um Corman que actualmente se encontra esquecido entre as gerações mais novas, mas jamais pelos que conviveram de perto ou foram directamente influenciados pela sua obra.
Quem nunca ouviu falar de coisas como Sharktopus, Camel Spiders, Supergator, Dinoshark ou esse grande clássico do cinema coiso que é Dinocroc vs. Supergator? São filme de série B, assumidamente maus, que saiem directamente para vídeo ou televisão, mas que encontram sempre um nicho de mercado disposto a aceitar tais coisas com braços abertos. Coisas que Roger Corman produz hoje em dia... Mas nem sempre foi assim...



O documentário vai às origens de Corman no cinema e percorre alegremente o seu percurso pelos anos 50, 60 e 70, mostrando as opções que levaram Roger a tornar-se no rei do cinema de série B, contando com várias entrevistas a amigos e colaboradores e realizadores influenciados pelo seu trabalho. Desengane-se quem pensa que Corman se dedica ao cinema exploitation porque não tem qualquer sentido de qualidade. Muito pelo contrário. Ao longo da sua carreira, com a sua própria produtora formada, Corman produzia e lançava os seus filmes, ao mesmo tempo que pegava em obras do cinema de autor europeu, que mais ninguém se interessava, como Bergman, Antonioni, Godard, Fellini e fazia esterar os filmes em locais de exibição impensáveis: os drive-in. Esta atitude contribuiu para que este tipo de cinema ganhasse notabilidade em terras do Tio Sam. Com a incursão falhada no cinema mais sério com The Intruder (1962), sobre integração racial, que será o seu melhor filme, porém um dos poucos que lhe deu prejuízo, Corman afastou de vez a ideia de fazer cinema de autor e dedicou-se exclusivamente ao cinema de série B.

Foi graças a ele que se formaram actores como Jack Nicholson, Sylvester Stallone e David Carradine e realizadores como Ron Howard, James Cameron, Peter Bogdanovich, Francis Ford Coppola, Martin Scorcese, Joe Dante, Jonathan Demme entre outros. O seu trabalho serviu de influência directa a Spielberg e George Lucas, que por ironia, com os seus Tubarão (1975) e Star Wars (1977), contribuiram para o seu declínio.
Sem Corman não teria existido Easy Rider, filme que impulsionou Hollywood a entrar numa nova era e a acolher outro tipo de cinema até aí impensável...

Se tiverem oportunidade vejam e fiquem a conhecer o homem que mudou Hollywood por ser do contra, mas que hoje muitos não fazem ideia de quem é!