segunda-feira, 17 de agosto de 2015

The Graduate (A Primeira Noite) - O Problema De Ser Rebelde


Em 1967 vivia-se um periodo de mudança em Hollywood. Os filmes clássicos já não davam dinheiro e, como forma de contornar este problema, os estúdios começaram a trazer temas que antes eram tabú para o grande ecrã. É nesta altura que surgem alguns filmes que fariam a base para aquilo que viria a ser a Nova Hollywood, tal como Bonnie e Clyde, O Cowboy da Meia-Noite e este A Primeira Noite, de Mike Nichols.

Baseado no romance de Charles Webb, A Primeira Noite apresenta-nos Benjamin Braddock (Dustin Hoffman), um jovem recém-saído da Universidade, que por esta altura ainda não sabe muito bem que rumo dar à sua vida. No entanto, a sua monótona existência é abalada por uma amiga dos seus pais, Mrs. Robinson (Anne Brancroft), que seduz Ben e os dois acabam por ter um breve romance. Tudo isto se torna ainda mais estranho quando Ben se apaixona pela filha dos Robinson, Elaine (Katharine Ross) e tem de lidar com a sua ex-amante que o proíbe de se aproximar da filha.


Feito numa altura de revolução cultural e de costumes, The Graduate é uma aguçada crítica à hipocrisia da moral Norte-Americana e à diferença de gerações. No entanto é também uma reflexão sobre rebeldia e as consequências dos seus actos.
Ben é um ser inadaptado quando regresssa a casa e se vê rodeado pelos seus pais e amigos. O mundo que os seus familiares idealizaram para ele, é totalmente indiferente para Ben, que se sente como um peixe fora de água. Ou melhor, como um humano dentro de água, respresentado pelos planos submarinos de Benjamin.
Quando Mrs. Robinson seduz Ben, embora relutante no inicio, o jovem vê aqui uma oportunidade de quebrar a rotina e fazer algo excitante e perigoso: um acto rebelde. Ao longo da relação do par, a mulher revela-nos um pouco da sua vida e do seu casamento infeliz. Ficamos a saber que ela casou porque ficou grávida durante o namoro e, embora nunca tenha sido realmente feliz, o divórcio era uma coisa impensável para a época e para um casal de tal estatuto. E aqui temos então um olhar pela hipocrisia dos bons costumes. As gerações mais velhas recusam-se a quebrar as regras publicamente, mas na intimidade acabam por fazê-lo ou por querer fazê-lo.


No entanto, à primeira vista, embora o filme pareça um retrato simplista do acto rebelde contra a sociedade convencional, se o espectador prestar atenção, descobre que pode não ser bem assim.
Ben começa o caso com Mrs. Robinson porque é proíbido. Ben e Elaine apaixonam-se e acabam por fugir no final porque estão a ir contra a vontade dos seus pais e da sociedade. Os dois acabam assim felizes para sempre. Ou não será bem assim?
O filme é acompanhado por uma banda sonora servida por Simon & Garfunkel que criaram a música Mrs. Robinson para a película. The Sound of Silence, muito bem aproveitada, é tocada em três ocasiões cruciais: no inicio, quando Ben regressa a casa; durante a relação de Ben com Mrs. Robinson e no final, quando Elaine e Ben fogem juntos num autocarro. Nestas ocasiões, a música não aparece por acaso. Aparece sempre quando Ben está a reflectir sobre a suas opções. No incio, o que há-de fazer da sua vida, na segunda vez, se aquilo que está a fazer com a amiga dos seus pais é correcto e no final. Mas porquê no final?
Ben e Elaine, ao entrarem no autocarro, dão inicio ao que pode ser o primeiro dia de uma vida feliz... ou não. O filme é todo ele resumido nos planos finais do par de fugitivos. A cara dos dois passa da felicidade resultante da emoção do acto de rebeldia para uma espressão mais séria e ponderativa. Daí The Sound of Silence.

Só depois de fugirem é que os dois jovens reflectem naquilo que acabaram de fazer e que talvez não tenha sido tão boa ideia, só porque era contra as regras. E isso aplica-se facilmente à vida real. Só porque é acto de rebeldia, não significa que seja bom. Às vezes é bom ponderar antes de agir.