quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Son of Rambow - Um Novo Herói - A Metalinguagem Trocada por Miúdos


Um problema com a maioria dos filmes de miúdos é que não são para miúdos. São sim para adultos com o Q.I. de um pato depois de uma noite de copos. Os filmes com miúdos não dão dimensão humana às personagens. Os produtores parecem pensar que se as audiências desligarem o cérebero, o filme até é capaz de resultar. Mas não.

No entanto, ocasionalmente, surge um filme com miúdos que é apropriado para miúdos (maiores de 12, vá!), porque resolve fazer das personagens seres humanos, com problemas e defeitos. É neste contexto que surge Son of Rambow - Um Novo Herói.

Realizado em 2007 por Garth Jennings, responsável pela versão cinematográfica de The Hitchhiker's Guide to the Galaxy (2005), mas principalmente ligado à realização de videoclips entre os quais o engenoso Imitation of Life dos R.E.M., Son of Rambow apresenta-nos a história de Will Proudfoot (Bill Milner), um miúdo de uma família ligada profundamente à religião (Igreja de Plymouth Brethren), nos anos 80, mais precisamente em 1982. Uma das doutrinas administradas é a total proibição de tecnologia passível de contaminar mentes, tais como televisão e cinema. Como tal, Will cresce sem influência externa destes meios. No entanto a sua imaginação não fica confinada por isso, e a bíblia que sempre o acompanha serve de tela onde Will expressa a sua criatividade através de desenhos coloridos. Isto até conhecer Lee Carter (Will Poulter), um jovem problemático, pouco mais velho que Will, que vê no nosso herói uma fonte de ingenuidade e um meio de conseguir um objectivo: fazer um filme para um concurso televisivo. A partir daqui a sua vida muda quando, acidentalmente, assiste ao filme First Blood.


Son of Rambow foge ao preconceito clássico do filme de miúdos e presenteia-nos com uma complexa história de amizade, com muito humor, não esquecendo o lado humano das personagens.
Will é uma criança cujo potencial é limitado pelas tradições, mas que se revela depois de ver o filme. Lee Carter, que à primeira vista é o típico bully problemático, tem no entanto problemas familiares, com uma mãe ausente e um irmão que o despreza, mas a quem ele faz tudo para agradar. Aqui entra também a abordagem da aceitação social. Will, devido à sua religião e suas limitações é inicialmente posto de parte pelos seus pares, mas ganha popularidade quando o filme começa a ganhar notariedade. Lee Carter, por sua vez, é solitário tanto por opção como por rejeição, mas luta por ganhar a aceitação do irmão e sente-se excluido quando Will é preferido pelos jovens. Até a mãe de Will tem de lutar com a aceitação do seu grupo religioso e com as consequências que surgem se a sua família não respeitar as regras. Didier (Jules Sitruk), um jovem Francês de intercâmbio é tratado como um ídolo pelos estudantes ingleses, apresentando-se como uma carícatura do jovem "fixe" que todos invejam e que olha com desprezo para todos.


O filme é profundamente metalinguístico, com as duas crianças a tentarem realizar o filme com os meios limitados que têm, basicamente uma câmara e o ambiente que os rodeia, e é também uma homenagem a First Blood e ao poder criativo do cinema. Mas é sobretudo uma reflexão de que a amizade pode superar o preconceito.

O filme conta com Jessica Hynes (da série Spaced e Shaun of the Dead) no papel da mãe de Will, e com pequenas aparições de Adam Buxton e do realizador Edgar Wright (Shaun of..., Hot Fuzz, The World's End e Scoot Pilgrim Vs. The World).